Fui casada com um ex-cliente por 10 anos (de 2005 a 2015) e talvez tenha sido uma das principais polêmicas envolvidas em minha vida.
Mas como um cliente abandona uma família para casar com um garota de programa? Sim, na época ele ainda estava casado e tinha duas filhas pequenas demais, uma com apenas um ano e outra com 3 anos. Duas enteadas que vieram no pacote para acrescentar neste desafio de me casar com alguém que conheci na prostituição.
Mas como um homem se apaixona por uma garota de programa? E minha resposta para esta pergunta sempre foi uma outra questão: Talvez porque sejam humanas e mulheres como outra qualquer?
Há muitos clientes que se apaixonam por garotas de programa. Eu não tinha ideia dessa dimensão até o momento que minha história se tornou notória, foi então que comecei a receber mensagens de homens dizendo que eram casados com prostitutas.
Uns sempre me demonstraram insegurança, enquanto outros demonstram muito orgulho. Eu sempre disse que garota de programa é o grupo de mulheres mais leais, não costumam enganar com sentimentos. Ao se apaixonarem por um cliente, acredite, é um sentimento verdadeiro!
E não é muito difícil explicar esta conclusão: diante de tantos homens com diversas personalidades e maneiras de viver, quando o sentimento surge por um entre tantos, não duvide, é amor.
Nas poucas paixões que vivi durante três anos e meio, elas não ocorreram por qualquer um. O cliente tinha que mexer demais comigo em vários pontos, pois sempre fui exigente. Não era apenas beleza ou apenas carinho, ele tinha que me passar segurança acima de tudo.
Tinha que demonstrar que me enxergava como a mulher lutando para buscar a felicidade onde quer que estivesse e não apenas como uma menina se aventurando na prostituição para pagar os boletos. Isso para mim sempre foi fundamental.
A maioria dos clientes eram homens casados, então tive que lidar com o fato de não me confundir com uma paixão momentânea, com fogo de palha. Muitas vezes me peguei carente demais com um cliente sentindo uma carência ainda maior do que a minha e na hora que ele ia embora após me pagar, eu precisava lidar que estava havendo uma troca de moedas e não de sentimentos, e em questão de minutos, a paixão momentânea tornaria apenas uma lembrança entre nós dois.
Recebi flores de alguns clientes, mas sempre com muito respeito, apesar das diretas que haviam gostado realmente de estar comigo. Recebi buquês anônimos também, outros com cartão contendo mensagem fofa e o telefone (sendo que na minha época contato por número era apenas através de SMS – eu fui puta raiz, das trevas, com dificuldade em me comunicar com clientes).
Nunca joguei nenhum buquê fora, acabei tendo um vaso próprio para flores que recebia de clientes. Não me estranhou o fato de que a maioria nunca mais marcou programa comigo, não sei se causei uma certa decepção por não ter os procurado ao receber as flores, se sentiram rejeitados sem uma resposta minha. O fato é que sempre consegui separar muito bem meu trabalho com a possibilidade de viver um amor. Era praticamente: amor é amor, negócios à parte.
A minha frieza fazia parte da minha armadura de ser uma prostituta livre, isso é, até conhecer meu ex-marido.
Ele também me enviou flores e no cartão havia o e-mail dele. Por obra do destino, foi o único que tive vontade de responder, pois lembrei que me comovi com a história que me contou num momento de desabafo durante um round e outro do primeiro programa: há menos de um mês, ele havia perdido um irmão vítima do câncer e me solidarizei por isso, então enviei um e-mail agradecendo as flores.
Poucos dias depois ele reapareceu. Foram no total 8 programas que fizemos juntos, dois meses, uma vez por semana. Até que no último programa, quando eu já me sentia mais amiga do que prostituta, o questionei: “Você quer ser amigo da Raquel ou cliente da Bruna?”
As duas alternativas não se encaixavam mais dentro de mim, não faziam sentido. Neste último programa, já éramos tão amigos que fizemos tudo menos sexo. E eu que já estava me sentindo mal nos últimos programas por estar recebendo dinheiro de alguém que eu me sentia já como amiga, então resolvi jogá-lo na parede. Ele respondeu que queria ser meu amigo… ufa, eu também não o aguentava mais como cliente.
Estou falando de fevereiro de 2005, o ano que iniciei decidida que seria o último ano me prostituindo. Saímos como amigos algumas vezes, apenas para conversarmos enquanto almoçamos ou degustando um simples espresso. A amizade fortaleceu enquanto a paixão acontecia. No final de maio já estávamos com as escovas juntas em casa e então assumimos entre nós o nosso romance. Durou dez anos, o tempo suficiente e foi bom enquanto durou.
Relacionamento entre garota de programa e cliente é muito comum. Aconteceu comigo e pode acontecer com você.
Ter me casado com um ex-cliente me trouxe boas vantagens, para começar não precisei inventar nenhuma história tentando explicar o que fazia da vida, ele já sabia, me poupei de qualquer explicação sobre minha vida profissional.
Se ele me buscou como garota de programa, logo concluí que alguma vontade sexual havia ali para ser saciada, o que me motivou de certa maneira. Nunca me imaginei casada tendo uma vida monótona sexual.
E por fim, se apaixonar por mim e querer me assumir para a família, significou não ser um macho escroto, ter uma mente aberta e não se importar com as opiniões alheias. Ele realmente queria estar comigo.
E estes detalhes são independentes se eu já tinha notoriedade na mídia ou não, pois acredito que valem para as garotas de programa anônimas também. Se um ex cliente te assume, é porque ele realmente não se importa com as escolhas da sua vida, te enxerga como humano e respeita quem é.
Ter um relacionamento com ex-cliente tem estas vantagens, que nem sempre você vai encontrar em uma pessoa que conhecerá fora deste seu meio de trabalho. Nem todos os homens aceitarão como você luta para ser uma mulher independente. Há ainda aqueles que são clientes assíduos do mundo da prostituição, mas que jamais aceitariam assumir uma garota de programa. Hipocrisia que chama né?
Eu tive sorte em meu relacionamento com um ex-cliente, durou dez anos, mas ele me respeitou desde o primeiro dia que nos conhecemos e segurou uma barra que eu reconheço que não é para qualquer um: durante quase 4 meses, mesmo já estando casada, continuei a fazer programa e ele aguentou.
Para piorar: eu atendia meus clientes no mesmo apartamento que morávamos juntos, obviamente com o consentimento dele. Confesso que me incomodava esta situação, por isso mesmo tomava todo cuidado do mundo para não deixar vestígios para quando ele chegasse em casa, visse alguma “prova do crime”.
Mesmo ele sabendo, morria de medo de deixar algum rastro, como por exemplo, alguma camisinha usada caída no chão ao lado da cama. Nós tivemos alguns combinados: eu comecei a atender cliente até no máximo 19hs, pois ele chegava em casa às 20hs e era o tempo necessário para deixar a casa em ordem como se nenhum outro homem tivesse passado por ali durante o dia.
Parei de acompanhar clientes em clubes de swing, afinal, era durante a madrugada e eu jamais deixaria meu marido dormindo em casa para atender qualquer cliente que fosse. Também parei de fazer programa aos finais de semana. A partir do momento que estávamos juntos, eu era apenas dele e nem o meu celular eu deixava ligado.
Tive todos os tipos de cuidados que eu gostaria que tivessem comigo caso eu me relacionasse com um garoto de programa. Nós não comentávamos sobre nada, ele nunca me perguntou como havia sido meu dia, e também não acompanhava meu blog, pois na época eu detalhava e dava nota aos programas.
Essa fase durou apenas 4 meses, mas foram bem longos. Eu sei que houve muito respeito da parte dele ao meu trabalho. Sei de várias histórias de amor que deram certo entre garotas de programa e ex-cliente ou então com algum homem que sabia da profissão dela. Mas também sei de várias histórias tristes, mulheres que sofreram relacionamento extremamente abusivo, tendo que ouvir em todas as discussões algo do tipo: “Eu te tirei daquela vida!” ou “Você deixou de ser puta graças a mim”. Já ouvi relatos de mulheres que ouviram exatamente estas frases.
Há muitos que se apaixonam por alguma garota de programa, mas nem sempre assumem. Acaba sendo uma paixão platônica, até mesmo porque nem sempre querem deixar a família de lado para viver o que muitos consideram como uma aventura. Há riscos de não dar certo para ambas as partes, pois é um relacionamento como outro qualquer.
Se você, homem-cliente está apaixonado ou se apaixonar por uma garota de programa, saiba que havendo reciprocidade nos sentimentos, você terá talvez a mulher mais fiel e que te dê mais valor.
Prostituta não se apaixona por qualquer um. E quando se apaixona, se entrega de corpo e alma, valorizando todo o respeito que você dá a ela. Sim, por todos relacionamentos que acompanhei de perto, sempre percebi que a gratidão é muito grande.
Bem no início do relacionamento com meu ex-marido eu disse ao sentir uma certa insegurança por parte dele: “De todos os homens que já conheci nestes quase três anos na prostituição, eu escolhi você! Simples assim!”.
Ele me deu um sorriso tão grande por ter sentido toda a verdade em minhas palavras porque é exatamente isso, a garota de programa conhece vários homens e se ela escolhe para estar contigo é porque há amor.
A mulher nunca começa a se prostituir procurando marido ou querendo viver um romance, ela quer apenas dinheiro e independência financeira.
É como se fosse um reality show que ninguém entra para viver um romance, apenas quer o prêmio final. Viver a prostituição é um jogo também. Todas entram com uma meta que é ser uma campeã no final das contas, depois de conviver com momentos intensos com pessoas que jamais viu na vida e sendo sempre vigiadas de alguma maneira.
Enfim, não tenha medo de viver um romance com uma garota de programa (ou ex-garota de programa). Pode ter certeza de que elas são leais aos sentimentos e são bem exigentes porque conhecem todos os lados bons e ruins das almas masculinas. Sinta-se apenas privilegiado por ter sido escolhido por alguma. Você é o homem mais incrível diante de tantos que já passou pela vida dela.
Caberá a você escolher respeitar o caminho de ela querer continuar na prostituição ou ajudá-la a recomeçar parando de fazer programa.
Muitos homens já me mandaram mensagens contando que são casados com ex-garota de programa e eu acho lindo os depoimentos que recebo, pois todos são demonstrando muito carinho e respeito. Além de muito orgulho por saberem que fazem tão bem a uma mulher que o escolheu para viver este relacionamento.
Por toda experiência que vivi, se você se apaixonar por uma garota de programa, permita-se, viva este amor e confie na fidelidade dela! Se ela ainda faz programa, que você tenha sabedoria para separar trabalho do relacionamento de vocês.
Se eu puder te dar um conselho, eu lhe digo: não desista de viver um relacionamento porque ela é prostituta. Pode ser a mulher da sua vida. E você pode estar sendo hipócrita demais ao desperdiçar de viver este amor para viver um relacionamento com uma mulher que talvez tenha feito mais sexo do que a garota de programa que te encantou. Pense nisso.
Homem consegue separar sexo de amor, não é mesmo? Prostitutas conseguem separar sexo por dinheiro de amor. Simples assim!
E se você já viveu ou vive uma história de amor com um cliente ou com uma garota de programa, me conte? Amo conhecer estas histórias! Mesmo.
São os relacionamentos mais leais no meu ponto de vista e é por isso que eu torço muito para que sejam eternos (mesmo que o meu não tenha sido).
Sejam felizes! E viva o amor!
Um beijo da Bruna Surfistinha
Não vejo nenhum vantagem pro homem nesse tipo de relacionamento. Pra mulher é tudo o que ela gostaria: um pouco de estabilidade e segurança em meio a uma vida difícil, perigosa e, as vezes, até secreta, enquanto que pro homem sobram apenas os sacrifícios: “aceitar isso…”, “aceitar aquilo…”. Claro que a Bruna só expôs uma mínima parte da história deles aqui, mas de tudo o que ela escreveu, só vi sacrifícios da parte dele. A gente não escolhe por quem se apaixona, mas é sempre bom usar um pouco da razão antes de entrar em um relacionamento.
Também penso dessa forma… Quem tem a ganhar aí é somente a GP pois continua faturando $$ e o homem “aceitando” até onde sabe o prazo que ela irá continuar com a prostituição. Aos finais de semana o homem literalmente fica com o “resto”. Na boa, penso que nenhum homem de valor aceite uma situação dessas… É difícil acredite que entre um ou outro Programa a GP em questão não tenha envolvimento nos mesmos etc. Complica que exista fidelidade numa situação dessas, na boa, não dá … Temos tbem que todo dia aparecerão clientes que podem “despertar” o interesse da GP em um outro homem nesse vai e vem todo, portanto é um relacionamento onde somente a GP tem a ganhar… Passei brevemente por isso, só tive psicólogico para suportar 1 mês haja visto q a mesma disse a mim q mesmo me amando não pararia os programas nem por mim nem por ninguém… entretanto não concordo de forma alguma que um relacionamento nessas condições darão certo, a não ser que a mesma decide mudar de profissão ou até mesmo se relacionar com uma ex prostituta aí sim a chance de dar certo são maiores.
Agradecemos pelo seu comentário, Fernando. É sempre bom quando nossos leitores expressam suas opiniões!